06 março 2011

HISTÓRIA DO CUBAL "SUBSÍDIOS PARA A MONOGRAFIA DO CUBAL"

Sebastião das Neves
(autor deste texto e do seguinte)
1930 - Ano de chegada a Angola
SUBSÍDIOS PARA A MONOGRAFIA DO CUBAL;
Fazer história é tarefa ingrata, especialmente, quando se pretende relatar o passado, com verdade e sem paixões.
O presente apontamento, que tenta contribuir para uma monografia do Cubal, é um trabalho sem pretensões. Apenas o incluímos, neste livro (Três Continentes uma Vida), por achar pertinente integrar algumas páginas dedicadas à nossa terra de adopção.
Elaborámos este esboço monográfico a partir de elementos recolhidos ao longo dos 44 anos que vivemos na região à qual, orgulhosamente, oferecemos, permanentemente, o melhor da nossa capacidade e dedicação.
Para fazer a História do Cubal há dois factores fundamen­tais a considerar: os factores humano e físico. Ainda que ambos sejam interdependentes, consideramos neste capítulo a compo­nente humana, pois a componente física — o Caminho de Ferro de Benguela — será abordada em capítulo diferenciado.

Como premissa básica queremos começar por destacar que a região da Hanha, onde se insere o Cubal, conheceu relativa importância, antes da construção do caminho de ferro.
Em 1878 a área Administrativa de Benguela era vastíssima. Abrangia toda a zona litoral desde Benguela a Novo Redondo, penetrando para o interior até às regiões do Seles, Bailundo, Huambo, Caconda, estendendo-se ainda até Camocuio, perto de Moçâmedes.
Só em Caconda existia uma pequena ocupação de europeus, um Posto Militar, designado por Capitania Mor, e em Quilengues uma Missão Católica.
A força militar instalada em Caconda funcionava como filtro coordenador da nossa penetração a partir de Benguela, via Dombe Grande, pelas margens do Rio Coporolo.
Em Quilengues definiam-se como que dois novos e impor­tantes ramos de penetração: um, via Hoque para a Huila, onde estava já implantada uma Missão Católica; o outro dirigido a N'Gola, Caconda e Bié.
Era em N'Gola que os nativos hostis ofereciam tenaz resis­tência à penetração dos portugueses que pretendiam atingir o “interland” designação genérica que se dava a todo o interior.
N'Gola podia considerar-se então uma zona, altamente, estratégica, tal como em terminologia moderna, hoje diríamos. Estava localizada sobre a montanha no prolongamento da Serra da Cheia. No sopé existiam picadas que facilitariam a almejada penetração.
Os nativos não viam, entretanto, com bons olhos o devassar das suas terras. Parece-nos que não haveria justificação plausível para a hostilidade dos nativos, quanto a nós, explicada, apenas, na existência de heterogéneos grupos tribais e, especialmente, na falta de contactos com o litoral onde, pelo contrário, a presença portuguesa era bem aceite.
O certo é que foi necessário ultrapassar múltiplas dificul­dades para que a nossa penetração se concretizasse. E, ela só foi possível, não, como muitos poderão supor, pela força das armas mas pela instalação dos verdadeiros colonizadores pacíficos: os comerciantes, que tal como Silva Porto, Fraga e tantos outros, foram verdadeiros «heróis da Paz».
Corria, como já referimos, o ano de 1878. Surge, em Luanda um homem que, com uma coragem indómita, arrostando, prati­camente, com o desconhecido, pretende dirigir-se a Caconda. Inicia a viagem, a pé, em Luanda seguindo pelas margens do Rio Cuanza. Em seguida atravessa a região do Seles, Benguela e Dombe Grande. Ao longo das margens do Rio Coporolo atinge a Hanha, segue para Caluquembe até que, finalmente, chega a Caconda, terra, ao tempo, com certa influência europeia.
A viagem empreendida por Joaquim Francisco Ferreira, assim se chamava o intrépido sertanejo, não teve grandes pro­blemas na zona onde os nativos, obstinadamente, nos eram hostis. Essa facilidade resultou do traçado inteligente que imprimiu ao seu caminho, pois a cerca de cem quilómetros de Quilengues, continuou a marcha pela margem do Rio Coporolo, rumo a Caluquembe, já em pleno planalto de Caconda evitando, assim, tacticamente, a passagem por N'Gola.
Poder-se-á imaginar, entretanto, no aspecto físico e psicoló­gico, a dimensão da empresa a que Joaquim Francisco Ferreira meteu ombros. Os seus instrumentos de orientação eram apenas uma bússola e um rudimentaríssimo mapa da região. Quanto às condições de sobrevivência basta que as imaginemos em pleno sertão e recuando, no tempo, até 1878.
A distância que percorreu estima-se, em termos rodoviários, actuais, em mil cento e cinquenta quilómetros!
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in Sebastião das Neves -"TRÊS CONTINENTES UMA VIDA"

Quem era Joaquim Francisco Ferreira- «Yola-Yola» ?

Quem era Joaquim Francisco Ferreira?
Joaquim Francisco Ferreira, minhoto por nascimento, era oficial da Marinha Mercante Portuguesa.Abandonou, em Luanda, o navio, a cuja tripulação per­tencia, por inconformismo com decisões de que foi vítima e que considerou, profundamente, atentatórias da sua dignidade. Huma­namente, revoltado, procurou longe dos homens que lhe feriram a alma, uma nova vida onde pudesse realizar-se, convivendo com a Natureza agreste, mas por vezes bem pródiga no seu reconhecimento àqueles que se lhe dedicam.Na sua imensa caminhada até Caconda, seus olhos e seu espírito ficaram presos à Hanha, quando por ali passou.A Hanha localizada no sopé de uma cordilheira, constitui uma planície que faz lembrar a lezíria ribatejana. A confluência dos Rios Coporolo e Lutira determina vasta extensão de terras irrigáveis e, como tal, férteis que permitiriam realizar alguns dos sonhos que transportava na sua bagagem mental.A Hanha persistia no seu pensamento. Assim a permanên­cia em Caconda foi de curta duração, ainda que a zona fosse, ao tempo, um «empório comercial». Em breve decide regressar ao local que o encantara e, em 24 de Junho de 1878, ali volta para se radicar e instalar uma vasta plantação de cana sacarina e, a partir dela, uma destilaria que funcionou até 1912, data em que, por Decreto, emanado de Lisboa, foi encerrada.A Fazenda instalada por Joaquim Francisco Ferreira era constituída por um conjunto de oito glebas adquiridas a sete nativos “seculos” (Nativos velhos e respeitáveis) de seus nomes:Matende, Chinamba, Cassapa, (proprietário de duas glebas), Candel, Capingana, Gungue e Diomer.Os originais das escrituras notariais celebradas entre Joa­quim Francisco Ferreira e estes nativos, estão na posse do autor. Em Angola, estas glebas foram registadas, na Conservatória de Benguela, sob a designação única de Várzea de São João da Lutira, no ano de 1898. Em Angola, em pleno Século XIX, os Portugueses já procediam assim.A breve trecho Joaquim Francisco Ferreira é alcunhado com a sugestiva designação de «Yola-Yola» que em língua nativa significa «o homem que está sempre a rir».O Ferreira além de ter criado os sectores agrícola e indus­trial, a que já nos referimos, alargou a sua actividade aos sectores comercial e pecuário.Construiu uma «frota» de carros «bóer» cada um puxado por 20 bois, devidamente, treinados.Para começar o Ferreira rompe a machado uma picada com cerca de 200 quilómetros, em direcção a Benguela. Mais tarde rasga nova picada, desta vez, até Caconda. Apenas, por curiosidade acho valer a pena referir que em 1930 esta ligação com Caconda era ainda utilizada.O tempo ia correndo. O Ferreira estabelecia um vai e vem constante com Benguela utilizando a sua «frota». Nessas deslo­cações transportava quer os produtos da sua própria produção quer aqueles que adquiria na região. Era, assim, o verdadeiro incentivador do comércio da vasta região que se estendia entre Benguela, Caconda e Huambo. Para além dos produtos próprios, comerciava em cera, mel, couros e gado, únicas produções a que os nativos, então, se dedicavam.Apesar da eficiência da frota, os transportes não eram, como se pode calcular, tarefa fácil. Os carros “bóer” não se podiam deslocar, permanentemente. As deslocações dependiam das condições climáticas. No período das grandes chuvas os rios não davam passagem e no período seco escasseava comida e água para os animais.Cada viagem durava cerca de duas semanas. O Domingo era dia de descanso. O percurso diário oscilava entre trinta a trinta e cinco quilómetros.De quando em vez surgia o inesperado: trovoadas violen­tíssimas acompanhadas por chuvas diluvianas obrigavam a sus­pender a viagem, às vezes, por duas ou três semanas.A região da Hanha progredia. Um segundo europeu, Carlos Rebelo de Matos, instala-se na margem esquerda do Rio Lutira, no prolongamento do Rio Coporolo. Entretanto, o comporta­mento do Matos desagrada às populações nativas. Em contrapar­tida o prestígio do Ferreira estava definitivamente firmado.Um dia, os povos da Hanha saturados com as sucessivas injustiças e diatribes praticadas pelo Matos, decidem eliminá-lo.Entretanto em função do respeito que votavam ao «Yola-Yola» quiseram, antes de actuar, ouvir a sua opinião.Alta madrugada, o soba Catoto chefiando as populações, armadas e sedentas de vigança, procuram o Ferreira dando-lhe conta dos seus intentos. Ainda que as relações entre os dois euro­peus não fossem famosas, talvez, até más, o Ferreira demons­trando o mais elevado tacto diplomático e alto senso humano consegue convencer o soba Catoto que seria apenas o Governador de Benguela quem poderia fazer justiça, em nome de El-Rei de Portugal.O Ferreira põe à disposição do soba e dos principais con­selheiros, carros bóer para que, com a facilidade possível, atin­gissem Benguela e aí expusessem o problema.Corria o princípio do nosso século. O Catoto chega a Ben­guela e consegue demonstrar a quem de direito, o peso das suas razões. Como consequência, imediata, o Governador determina a saída do Matos da região da Hanha, local onde jamais poderia regressar.Para o cumprimento desta decisão é destacada uma força militar incumbida de trazer, para Benguela, o Matos morto ou vivo. O causador do problema não oferece qualquer resistência e a missão foi cumprida sem outras complicações. Uma vez mais, o senso de Joaquim Francisco Ferreira estava demonstrado.Um outro facto nos parece relevante para realçar a perso­nalidade de Joaquim Francisco Ferreira, pois que para além de importante agricultor e de evoluído industrial, o «Yola-Yola» foi, fundamentalmente, o colonizador na boa e exacta acepção do termo. A forma especial como soube estabelecer e defender as relações pessoais com os povos da área, até então, extremamente, rebeldes, pode classificar-se de notável.O seu comportamento comercial e social conquista a ami­zade e, fundamentalmente, o respeito dos povos que o rodeavam.O exemplo que pretendemos referir é bem expressivo, da sua influência junto dos autóctones e, muito em especial, da forma como o Ferreira sentia de perto os problemas humanos. Reside no processo hábil e inteligente como conseguiu fazer abolir, na região da Hanha, a pena capital, então, ainda cruelmente imposta pelas autoridades tradicionais. Com o argumento de que a pena de trabalhos forçados perpétuos seria muito mais dura (pois era... eterna), o Ferreira consegue que os crimes sujeitos à pena capital, passem a ser punidos por tal processo.(…)Em consequência da intervenção militar na zona da Hanha, determinada pelos problemas criados pelo Carlos Rebelo de Matos, o Governo sente, pela primeira vez, a importância económico-social da região. Por isso instala, como elemento de sobera­nia, perto da nascente do Rio Songue (junto ao riacho Ubir), um Posto Militar dependendo, em directo, da Capitania-Mor de Caconda. Este Posto é instalado sob a chefia de um sargento do Exército. Tempos depois a localização do Posto é transferida para o lugar do Lumba, no sopé da Montanha. Torna-se, então, Posto sob jurisdição civil e tem como primeiro Chefe, Teodoro José da Cruz, cidadão de origem brasileira e pai de uma figura quase lendária, de Benguela, o advogado Amílcar Barca da Cruz.Anos volvidos, o Posto da Hanha conhece nova localização, à beira da estrada Benguela-Caconda, no alto do Songue.A localização ideal do Posto ainda não tinha sido encon­trada. E, assim, nova mudança; agora para o Caviva, no sopé da Serra Útuo-Muno (cabeça de homem), ainda, na berma da mesma estrada. Foi então, seu responsável, o Chefe Jácome de Aguiam.Vivia-se o primeiro ano do Século XX. No Cubal, na Ganda, em toda a Hanha, nada havia sido realizado, rumo ao desenvolvimento efectivo. A vida real da região era determinada, apenas, pela radicação dos nativos nas zonas marginais dos rios e, fundamentalmente, pelas actividades desenvolvidas pelo Yola-Yola.Nesta altura o Joaquim Francisco Ferreira tem conheci­mento do ambicioso projecto da construção de um caminho-de-ferro, que iria ligar o litoral à África Central. O cepticismo do Ferreira era grande. Não olvidava o fracasso havido na ligação ferroviária Catumbela-Benguela.Entretanto, neste momento, mas sempre relacionado com o factor humano da fundação do Cubal, teremos que referir a criação do Caminho de Ferro. Em próximo capítulo abordaremos tal como já referimos, o tema Caminho de Ferro de Benguela.É entre 1903/1904 que os técnicos ingleses, incumbidos da construção da veia de aço que rasgaria as entranhas da enorme Angola, atingem o Cubal com o levantamento e picotagem da linha, visando o Rio Cubal acima da confluência dos dois rios do mesmo nome que o formam: Rios “Cubal da Ganda” e “Cubal da Hanha”.Nesta altura o Ferreira acha oportuno contactar, directa­mente, esses técnicos e consegue obter informações sobre o tra­çado da linha, e, até, da localização das próximas instalações que apoiariam o empreendimento.De posse das preciosíssimas informações e com a argúcia de sempre, aproveitou-as, da melhor forma, iniciando de imediato a construção de uma casa comercial, que localizou ao lado esquerdo daquela que em 1974, ainda existia e era conhecida por “Casa do Catoto” «Catoto» — Alcunha do filho mestiço do Ferreira, de seu nome Joaquim Francisco Ferreira Júnior.Assim, foi a casa do «Yola-Yola» a primeira casa do Cubal a que se seguiu a de Teodoro José da Cruz, que depois de refor­mado, se dedicou ao comércio. Esta casa situou-se, na margem esquerda do rio, abaixo da velha ponte de caminho de ferro, a cerca de 3000 metros do local previsto para as instalações do C. F. B. e da casa de Joaquim Francisco Ferreira. Achamos, deveras, curiosa a justificação de Teodoro José da Cruz acerca do local escolhido para a construção; — poderia chegar a casa sempre que quisesse, mesmo na altura pluvial alta quando o rio transbordasse as margens. Só com carros «bóer» se poderia, então, fazer a travessia e, mesmo assim, nem sempre. Ele, Teo­doro, nem sequer possuía carro «bóer»...
A CHEGADA DO «MONSTRO DE FERRO»
Em 2 de Maio de 1908 o primeiro comboio atinge o Cubal. Durante vários anos foi o «2 de Maio» o Dia do Cubal, como homenagem à Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, não esquecendo que o desenvolvimento da região se processou a partir da passagem desse “monstro de ferro”. Nesta altura as únicas edificações existentes, no Cubal, eram, além das duas casas já referidas, o apeadeiro do C. F. B. e o barracão que lhe servia de oficina de apoio-Entre 1912 e 1914 é criado o Concelho da Ganda que inte­gra o Posto da Hanha. Para que o Administrador do novo Con­celho pudesse visitar este Posto, tinha que deslocar-se de comboio até ao Cubal e depois utilizar a picada aberta pelo Ferreira.Anos correram. Em 1925, o Ferreira adoeceu, gravemente, e caminhou rumo ao Cubal para apanhar um comboio que o le­vasse até Benguela em busca de melhoras. Quis o Destino que na ponte do Rio Cubal (da Ganda), às portas da povoação que fun­dara, ao edificar a primeira casa, que a Vida se lhe extinguisse dentro do carro onde era transportado. Se o Ferreira se aperce­beu da morte, talvez sentisse alguma compensação, pois morrer junto de algo que se criou e amou é, quanto a nós, uma espécie de privilégio. O «Yola-Yola» teve, assim, a felicidade maior, de cerrar para sempre seus olhos diante da realidade que ele próprio criara: o CUBAL. Em 1928, com o desenvolvimento da povoação, o Posto Administrativo, instalado no Caviva, passa enfim para o Cubal, ainda que mantendo a designação de Posto da Hanha. Foi seu primeiro Chefe, Cristóvão de Lima. Só em 1961, em 14 de Junho, é fundado o Concelho do Cubal, tendo como primeiro Administrador, Horácio Lusitano Nunes. Era ao tempo Governador do Distrito de Benguela, o Inspector Administrativo Hortênsio de Sousa.O novo Concelho passou a integrar o antigo Posto da Hanha, que pertencia ao Concelho da Ganda, agora designado de Posto Sede e, ainda, o Posto de Caimbambo, pertencente ao Concelho de Benguela.Mais tarde foram criados dois novos Postos: Quendo e Hanha, que com o Posto Sede e o de Caimbambo formaram Concelho, pelo menos, até Novembro de 1974.Funcionava como órgão municipal a Junta Local que, por decisão superior prosseguiu a sua acção, ainda que por curto espaço de tempo, pois em 6 de Dezembro de 1961 foi transfor­mada na primeira Câmara Municipal.Em 23 de Janeiro de 1968 o Cubal atinge como que a sua emancipação sendo elevado à dignidade de Cidade, verdadeira coroa de glória para os seus obreiros.
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in Sebastião das Neves -"TRÊS CONTINENTES UMA VIDA"

05 março 2011

Cubalenses

1. Rocha, amigo de João Porto e Júlio Tipoia
2. Virgílio Costa
3. Carmen Fontoura
4.Adozinda Porto, minha irmã no dia do seu casamento na Igreja do Cubal 5. Adozinda Porto e Virgílio Costa
6. Adozinda, Virgílio Costa, Manuel Porto, Odilia Palma, Artur Costa, Maria Silva Costa, Generosa Porto, José Manuel, Graça Martins, Araújo, José Maria Lago Bom (mucoca), João Porto e... Diny Querido
7. Maria Odilia Palma, filha da D. Conceiçao Palma e Francisco Palma

02 março 2011

Cubalenses

1.
2.
3.
4.
5.
Eu (Diny Querido),meus pais (TONECA e MARINA) tia MANELA, meus avós(FRANCISCO QUERIDO e JULIETA), tia MILAY, tio MENDES, ANY e BETO QUERIDO MENDES, primo RAÚL

Cubalenses

1. em cima da esq. para a dt:PAULA MAGALHÃES, DINY QUERIDO,PALMIRA CARVALHO SILVIA embaixo da esq.para a dt:ARLETE ISABEL DUARTE HELENA
2. Meu Pai ANTONIO QUERIDO, Eu, Pai do JAIME MARQUES DE ALMEIDA em frente à loja do meu avô paterno, onde mais tarde foi a Gardenia
3. CRISTINA PINTOZINHA, ELISABETH RIBEIRO, PALMIRA CARVALHO (dentro do carro)ORLANDO MARTA NEVES, DAVID SARMENTO, JORGE TOME, PAULA MAGALHÃES (de capacete) NININHA MAGALHÃES MILÓ CARRASQUEIRO, DINY QUERIDO (cortada na foto)
4.
5.
Como sempre, convido à legendagem...

01 março 2011

Memórias de uma infância e juventude plena, por Fernanda Valadas

Há anos que tento organizar a minha memória a fim de poder expor por escrito, retalhos da minha vida cubalense desde a infância a adolescência, e, acreditem, são tantas as histórias (estórias) e situações por que passei que me causam uma certa dificuldade na escolha.
 
Vou iniciar este ciclo falando de mim: 
-Quem não conhecia aquela   miúda "Maria Rapaz" que andava de calções, jogava a bola e hóquei em patins, andava de motorizada, brigava, e, sobretudo brincava de igual para igual com os rapazes e que sem saber já impunha o direito e igualdade dos sexos?
-Onde fui buscar inspiração para ter sido como fui? 
-Lembram-se dos livros da escritora britânica Enid Blyton?
-Lembram-se dos seus livros " As Aventuras dos Cinco"?  Comecei a ler esses livros quando andava na 3 classe, aos 8 anos de idade e quem mos emprestava era a Nazaré Miranda.
Eu lia e relia aquelas aventuras e... Como me faziam sonhar.
 A Zé era o meu ídolo e a personagem com a qual me identificava e foi a poder disso que tive uma infância e juventude recheadas de aventuras com situações caricatas, dramáticas, cómicas, de coragem, de perigo, de brigas, etc., etc., etc..
 
Poderia desde já começar a narrar essas situações, mas, vou guarda-las para mais tarde e poder assim recordar os grandes e bons velhos amigos que fui fazendo nessa época e que ainda hoje persistem no meu coração.
 
Quero agradecer a todos eles o facto de terem contribuído na formação do meu carácter e personalidade.
 
Da próxima vez começo a contar os flagrantes da minha vida.
 
Até lá,
Um grande abraço 
Fernanda Valadas

VIDA REAL Nº 3 - Eduardo A. Flórido

ESPAÇO DEDICADO AO CUBAL E ÀS SUAS GENTES COM HISTÓRIAS VERDADEIRAS PASSADAS, POR ALGUNS DOS SEUS FILHOS, DESCONHECIDAS (Histórias) DE TODOS. NO CUBAL E NÃO SÓ.

ANO 1974.

RELEMBRANDO O MANUEL FERNANDO CARONA, ESSE GRANDE AMIGO…

Depois de um Curso de Sargentos Milicianos (durabilidade de mais ou menos 6 meses, entre recruta e especialidade), cursado na E.A.M.A., (Escola de Aplicação Militar de Angola), Nova Lisboa e que infelizmente devido a um 25 de Abril muito mal camuflado, sou quatro dias depois, por ordens superiormente emanadas, promovido a 2º Furriel, eu e todos quantos frequentamos a dita, para mais, dois dias volvidos, nos caírem em cima as divisas de 1º Furriel (Como entretanto devido a provas físicas excelentes, e com valorização em todos os testes, sou chamado ao comandante da E.A.M.A., onde me perguntam, se eventualmente, não teria interesse em ingressar no Curso de Oficiais Milicianos, havendo no entanto um senão que foi a origem da não aceitação, teria que começar de novo em Janeiro de 75, uma nova recruta visionada a Oficiais. Penso e chego à conclusão que não seria em nada vantajoso, pois perderia cerca de um ano de exército, assim sendo mostro-me irredutível e avanço 12 meses no espaço e no tempo) … Para quem esperava que as mesmas divisas) só aparecessem 18 meses depois, começava tudo por ser airoso e de certo modo até interessante, a vida militar que tínhamos de fazer voluntariamente obrigados… e com o ordenado que pagavam, como estava desarranchado e Caconda era considerada, como zona de 50% de guerra (17.250$00, salvo erro), sentia-me como um rei, na barriga, inchadíssimo.
Antes porém, devo acrescentar, que muita malta da minha idade, vou fazer em 17 de Abril 58 anos, tinha assentado praça na dita E.A.M.A., casos do MANUEL FERNANDO CARONA, FERNANDO JORGE VAZ FAUSTINO, FERNANDO REBELO DE FREITAS E OUTROS DOS QUAIS JÁ NEM ME RECORDO NOMES (onde estão meus amigos?), mas que directa ou indirectamente, continuam no sótão do pensamento, por nos terem separado e mandado, em prol da defesa de uma Pátria que hoje e aqui em Lisboa teria que ser muito mais bem guardada, já que o grande mal que avassala este País, nunca foi as Províncias Ultramarinas e sim os tachos que se iam perdendo, enquanto as ditas (províncias Ultramarinas) estavam cada vez mais seguras, fruto duma estreita colaboração de pessoas de bem, independentemente de raças e credos, fortalecidas por estruturas humanas, vincadamente superiores, mas enfim isso não são contas do meu rosário.
Aquando da especialidade, sou abordado pelo meu grande amigo, MANUEL FERNANDO CARONA que me pergunta sem pestanejar: Eduardo, que especialidade escolheste? Sem as mínimas reticências digo-lhe apenas Atirador Especial e tu NANDO? Eu, eh pá, pela adrenalina, vou para os pára-quedistas. Fiquei boquiaberto, mas enfim, o NANDO, contra-ataca, porque vais para atirador? Tento explicar-lhe que aquela era a especialidade que me obrigaria de todo, saber um pouco de tudo e sentir-me-ia muito mais à vontade controlar do que ser controlado. Entre um abraço e um sentimento de irmão despeço-me do meu grande amigo, ficando quase com a convicção que certamente não o voltaria a encontrar tão cedo, mas a vida, a vida, sempre a vida, surpreende-nos, em cada esquina dobrada…
Depois da respectiva promoção, esfrego as divisas no chão, para não parecer um novato e sim velhinho de guerra e vou directamente para o Regimento de Infantaria, Sá da Bandeira, onde, devido às excelentes provas prestadas na E.A.M.A., peço para ingressar nessa bela Vila de Caconda, para onde aliás de imediato sou destacado. Para ali, CACONDA, só havia uma vaga e essa por direito próprio, pelas notas, conseguidas na recruta e como era o primeiro a escolher, nem hesitei. Relativamente perto de casa, estava como queria, passava o dia na pensão de Caconda, pensão do Sr. Lito, indo ao quartel de quando em vez para não dar muito nas vistas, embora me tivessem dado, toda a responsabilidade do PAIOL, DA SECÇÃO DE JUSTIÇA E DE INFORMAÇÕES SECRETAS. Nada mau, para um puto de 20 anos, nada mau… Uma odisseia, no mínimo. Na pensão LITO, a quem mando um abraço se me estiverem a ler, sou tratado que nem um LORD. O Lito e a sua esposa davam-se ao trabalho de terem a posta de Bacalhau assada e preparada para diariamente ser devorada às 7,30H, da manhã, posta de Bacalhau e um bife com um ovo a cavalo e respectivas batatas fritas, tudo isto muito bem regadinho com café com leite, à disposição, até quanto bastasse, ainda com pãozinho com manteiga (mensalidade de 1750$00, pequeno-almoço, almoço, jantar, cama e roupa lavada, caríssimo não?) …
Assim vou passando os dias…
Até que um dia, encontrava-me de Sargento de Dia, e estando no meu gabinete (lindo, não?) da Secção de Justiça, um cabo avisa-me, Furriel está lá fora, outro camarada seu, que foi destacado aqui para Caconda e pretende apresentar-se. O.K., vamos lá conhecer o homem. Entretanto o Cabo balbucia-me entredentes, o homem tem um cabedal que é de meter medo. Não acredito no que oiço porque de imediato me vem à cabeça que era o Carona (mais tarde baptizado por mim como sendo KIKO), que teria sido destacado para CACONDA. Não, penso, devo estar a sonhar o CARONA estará infelizmente nos pára-quedistas, impossível ser esse meu grande amigo. Chego à varanda e vejo com os olhos humedecidos pela emotividade da situação, o FERNANDO CARONA, ali especado à espera que alguém lhe pudesse dar as boas vindas. Grito-lhe e de imediato parto ao seu encontro, que numa confraternização de irmão de sangue se deliciam por se terem voltado a encontrar, sem imaginar, as histórias que iriam perpetuar naquela vilazeca do interior, e que histórias SANTO DEUS.
E como em todo o conto verídico há aquelas que naturalmente se podem falar e há e haverá sempre as outras que são tabu, de serem reveladas, pois por si só elas são de uma grandiosidade tão tremendamente forte que se fossem delatadas, certamente seriam, delapidadas do seu valor de preciosismo e tornar-se-iam como se de vulgaridades se tratassem, e quando no real nada disso sucede, dessas no entanto, não falarei.
Caconda era uma vila conhecida, por ser uma zona esotérica, como deverão e por uma questão de respeito a mim próprio e às intervenientes, apelidá-las-ei de Senhoras XXX. E esotérica porque corria por Angola inteira que havia uma água muito especial, nessa dita vila, que quem lhe a desse e caso se bebesse era casamento garantido.
Entretanto o Carona, desarrancha-se e começa por comer tb., na pensão do Sr. LITO e respectiva esposa. Ponho o BOM GIGANTE, ao par de todas as situações, e com o passar do tempo como nada há a fazer, informo-o como bom amigo, o cuidado a termos pelos convites que naturalmente surgissem, indo eu ao cumulo de lhe dizer que quando lhe oferecessem algo, o aceitasse sempre com a mão esquerda, maneira correcta de a água não fazer efeito, e cortar todo o mal que naturalmente pudesse conter, pois todos sabemos que não há bruxas, mas que existem, existem, isso não duvidem.
Começa a correr por Caconda entretanto a noticia que havia dois furriéis, solteirinhos, bons mocinhos, que nada tinham a ver com os outros porque estes eram mais finos, nem dormiam no quartel, e comiam na pensão LITOS, onde diariamente à hora do almoço, se começou a ver um movimento feminino demasiadamente inusitado, e muito distinto do que aquilo que até há bem pouco tempo se passava. Começam tb., a chover convites para festas particulares que duma forma subtil, vamos nos esquivando, aterrorizados pela tal dita água que podia contaminar, qualquer comida ingerida, lembrando no entanto eu, ao Carona, que se naturalmente nós fossemos, pegar tudo com a esquerda, não fosse o diabo tecê-las. Mas a muito custo, diga-se de passagem, sempre nos esquivámos com desculpas mais esfarrapadas e inocentes possíveis, pois os nossos 20 anos, sem a maturidade de hoje, eram uma catástrofe. E como havia tanta tentação de 30 e tantos anos… mas havia que aguentar, aquilo não estava para folias, e o casamento obtido daquela forma muito menos no n/ horizonte. Abro aqui um parêntesis, muito especial à Lucília, esposa do Carona, porque tenho a certeza que o ÓPTIMO GIGANTE KIKO, nada lhe escondeu, e ela na sua bondade certamente compreenderá tudo quanto se passou e aliás o que vou contar a seguir, já foi motivo de risota na sua bela casa, onde vivem.
Um belo dia, almoçava eu o NANDO, na pensão, quando aparece alguém a perguntar pelo furriel Flórido ou Carona.
De imediato uma mocinha aparece, trazendo um pudim de leite feito pelas Senhoras XXX, que nos diz, que as mesmas teriam muito gosto que nós o comêssemos como sobremesa naquele dia. Comovidos agradecemos e prontificamo-nos a provar o mesmo, assim que acabássemos de Almoçar. Findo o mesmo, olhamos para o pudim e dividimo-lo ao meio ou seja metade para cada um e vai daí a primeira colherada, eis que eu solto um grito que se ouve na pensão toda: Cuidado Nando, olha a água. O Nando de imediato pára e desatámo-nos a rir, mas pelo sim e pelo não, não houve pudim de leite para ninguém.
O Sr. LITO e a esposa, tinham nessa altura um cão que andava sempre solto no quintal da Pensão e vai daí o nosso bom iluminado Carona, propõe-me: Eh! Pá, se isto nos faz mal a nós, tb., certamente fará ao Cão, vamos-lhe dar a ver o que acontece, dito e feito. Chamado o cão, o mesmo não se faz rogado comeu o pudim inteirinho em menos de um fósforo, ou enquanto o diabo esfrega um olho…
Esquecemos o assunto cada um foi para o seu quarto, tratar da sua higiene pessoal, e sinceramente nunca mais nos lembrámos, nem do pudim, nem do cão, nem das Senhoras XXX.
Como sempre depois de uma soneca, uma hora, arrancamos para o quartel. A casa das ditas senhoras, ficava perto do mesmo e forçosamente teríamos de passar à porta. E foi aí que os nossos corações de homens de 20 anos, gelaram totalmente quando avistamos o cão a quem tínhamos dado o pudim, a espumar e a ladrar desenfreadamente, com o rabo todo esticado, mostrando um rosnar que nunca tínhamos visto naquele bicho que lidava connosco diariamente, num frenesim de loucura total, como se buscasse algo que ainda hoje não percebi o que seria, apenas que era possuído por força estranha e demasiadamente assustadora. DIREI MESMO ATERRADORA.
Gostaria que o meu grande amigo Carona fizesse a confirmação desta história.
Mas finalizo, que se não houvera, jamais houve festa que fosse frequentada por nós…
Foi um exemplo demasiadamente ATERRADOR, que tem o seu término, volvidos dias, quando o cão sem saber-se porquê, morre repentinamente.


Com cordialidade…
Até um dia destes,
*Eduardo A. Flórido
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